sexta-feira, 23 de março de 2012

O Sacramento da Ordem


     Iniciamos, agora, nossa meditação sobre o sacramento da Ordem. O Catecismo da Igreja ensina assim, sobre este sacramento: “A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada a Cristo e a seus Apóstolos continua a ser exercitada na Igreja até o fim dos tempos. É, portanto, o sacramento do ministério apostólico” (n. 1536). É um belo modo, esse, de apresentar o sacramento do ministério ordenado, o sacramento pelo qual os Bispos, os presbíteros e os diáconos são constituídos ministros de Cristo para o bem do Povo de Deus. Mas, vamos por partes. Primeiro, o nome desse sacramento: Ordem! Por quê? Na Antiguidade, chamava-se “ordem” a um corpo, um grupo de pessoas que tinham uma determinada responsabilidade ou um determinado tipo de vida... chamava-se assim sobretudo ao grupo dos que governavam. Por exemplo, a ordem dos pretores, a ordem dos magistrados, a ordem eqüestre... Então, ordem, na linguagem civil romana, era um grupo de pessoas que exerciam as mesmas funções, reconhecidas publicamente. A entrada de uma pessoa em uma determinada ordem era chamada de “ordenação”. Pois bem, na Igreja, desde os primeiros séculos, tornou-se costume chamar de “ordem” ao grupo dos ministros sagrados. Assim, desde os tempos antigos, encontramos nos documentos e nos livros litúrgicos da Igreja as expressões “ordem dos Bispos”, “ordem dos presbíteros” e “ordem dos diáconos”. Mas, é bom observar que também chamavam-se ordem aos vários outros grupos de pessoas no interior da Comunidade: a ordem das virgens, a ordem dos monges, a ordem dos confessores (= aqueles que haviam sofrido torturas por causa da fé). Aos poucos, a palavra ordem foi sendo reservada para o grupo dos ministros ordenados. Como um ministro da Igreja deve receber um sacramento para ter as condições de exercer seu ministério, esse mesmo sacramento passou a ser chamado de Sacramento da Ordem, quer dizer, o sacramento pelo qual a pessoa é inserida na ordem dos ministros sagrados. A Igreja achou por bem conservar esse termo “ordem” porque, além de ser costume no mundo antigo, tinha respaldo na Sagrada Escritura. Por exemplo: Cristo é, várias vezes, chamado sacerdote eterno “segundo a ordem de Melquisedec” (cf. Sl 110,4; Hb 5,6; 7,11). A nomenclatura ficou, então, assim: “ordem” é o nome do sacramento e “ordenação” é a celebração do sacramento, o rito litúrgico instituído pelo Senhor e praticado pelos apóstolos, que insere na ordem dos bispos, presbíteros ou diáconos aquele que foi escolhido para o ministério sagrado.

     Vejamos um pouco como este sacramento foi aparecendo na Sagrada Escritura e como ele está ligado a Cristo e aos apóstolos. No Antigo Testamento, Deus escolheu um povo, Israel. Este povo era um povo real (pois era o povo escolhido por Deus para, através dele, anunciar o seu Reino), um povo de profetas (pois era o povo pelo qual Deus anunciava a sua palavra) e um povo sacerdotal (pois era o povo consagrado ao serviço do louvor do Senhor no culto divino). Mas, no meio desse povo, Deus escolhia pessoas para exercerem funções específicas para o bem de seus irmãos: eram os pastores do povo! Quem eram tais pastores? Fundamentalmente, os sacerdotes, os profetas e os reis. Vejamos um pouco:


a) os reis eram consagrados, ungidos com óleo, símbolo do Espírito do Senhor, para serem guias do povo de Deus (cf. 1Sm 10,1; 16,13; 26,9; 2Rs 9,6). Em Israel somente o Senhor é rei; o rei descendente de Davi é o servo de Deus: ele deve liderar seu povo, defendê-lo dos inimigos externos e, sobretudo, velar pelo cumprimento da lei do Senhor, fazendo justiça aos pobres.

b) os profetas, em geral, não eram ungidos com óleo para exercerem sua missão. A unção era espiritual: o Senhor os marcava diretamente com a força do Espírito e o selo da vocação. Basta recordar a vocação profética como é descrita em Isaías: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu” (61,1). Sua missão era anunciar a Palavra do Senhor e denunciar tudo aquilo que na vida do povo era contrário à vontade de Deus. Os profetas também consolavam e animavam o povo de Israel nos seus momentos de provação.

c) os sacerdotes são o terceiro grupo de pastores do povo. Eles eram da tribo de Levi, da família de Aarão. Sua missão era cuidar do serviço do Senhor no culto divino e orientar o povo no cumprimento da lei. Cabia aos sacerdotes ensinar ao povo a lei do Senhor e guia-lo na observância de seus preceitos (cf. Lv 4,5; 8,12; 16,32; Ex 28,41; 40,15; 30,22s.30-33).

     No entanto, esses pastores foram infiéis. Um bom exemplo disso pode ser encontrado em tantos textos do Antigo Testamento. Por exemplo: os reis fracassaram pela sua impiedade (cf. 1Rs 11,1-13; 2Rs 16,2ss; 23,31ss; Os 8,4), os profetas também fracassaram na sua missão (cf. Is 9,15; Jr 2,8; 5,31; 6,13; 23,11.13-17.21-33) e os sacerdotes foram incapazes de corresponder ao que Deus esperava deles (cf. Os 4,4-11; 5,1-7; Jr 2,26ss; Ez 22,26; Mq 3,11; 2Rs 12,5-9; Ml 2,1-9). Diante dessa realidade, Deus promete e envia um verdadeiro rei, justo, santo, fiel. Esse rei, verdadeiro filho de Davi, seria o Messias, verdadeiro pastor de Israel, Jesus, chamado Cristo (= ungido) (cf. Jo 1,49; 18,33.37; Mt 21,5; Lc 19,38; Mc 15,2). Deus também leva à plenitude o profetismo de Israel, enviando o seu próprio Filho: ele é a própria Palavra do Pai, o revelador perfeito de Deus e de sua vontade (cf. Mt 13,13ss. 57; 23,37s; Jo 1,21; 7,40; Mc 6,4; Hb 1,1). No Novo Testamento o verdadeiro pastor de Israel é Jesus: “Eu sou o bom Pastor; conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai” (Jo 10,14s). Ele é o verdadeiro rei, o verdadeiro profeta, o verdadeiro sacerdote, ungido pelo Pai com o Espírito Santo no batismo e na ressurreição. Nele, tudo quanto o Antigo Testamento preparou e prometeu realizou-se e chegou à plenitude. É somente tendo bem presente essa realidade que poderemos compreender o sacramento da Ordem.

     Então, deixando bem claro: Cristo é o verdadeiro sacerdote, o verdadeiro profeta, o verdadeiro rei do Novo Testamento. Nele, tudo quanto Deus prometeu se cumpriu e se realizou. Ele é o único sacerdote, o único profeta, o único rei da nova e eterna aliança!No próximo artigo, continuaremos nossa meditação. Até lá!



Fonte: Dom Henrique


quinta-feira, 15 de março de 2012

Unção dos Enfermos




     Unção dos Enfermos, um dos sacramentos de que nada se fala, de que pouco se sabe, de que se tem medo, mas que é muito importante a muito curto prazo para a salvação eterna!
     A Unção dos Enfermos é um dos sete sacramentos da fé católica que, segundo a ordem tradicional, vem em último lugar, e a que já se chamou também "Extrema Unção" e "Santa Unção" : Cân. 998. - A Unção dos Enfermos, pela qual a Igreja encomenda ao Senhor, sofredor e glorificado, os fiéis perigosamente doentes, para que os alivie e salve, confere-se, ungindo-os com o óleo e proferindo as palavras prescritas nos livros litúrgicos. Este sacramento é administrado a pessoas com doenças graves em que corre o risco da sua vida. Portanto "não é sacramento só dos que estão no fim da vida". Deve ser administrado, quando alguém começa por doença ou velhice, a estar em perigo de morte.


Assim o refere o Catecismo da Igreja Católica: 1514. - A Unção dos Enfermos "não é sacramento só dos que estão no fim da vida. É certamente tempo oportuno para a receber quando o fiel começa, por doença ou por velhice, a estar em perigo de morte"(SC 73). Na administração deste sacramento, o ministro unge o doente na fronte e nas palmas das mãos.


Diz o Catecismo da Igreja Católica : 1513. - A Constituição Apostólica "Sacram Unctionem Infirmorum", de 30 de Novembro de 1972, a seguir ao Concílio Vaticano II, estabeleceu o seguinte : O sacramento da Unção dos Enfermos é conferido às pessoas perigosamente doentes, ungindo-as na fronte e nas mãos com óleo devidamente benzido - azeite de oliveira ou outro óleo de extração vegetal -, dizendo uma só vez : "Por esta Santa Unção e pela sua piíssima misericórdia o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo; para que liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na Sua bondade alivie os teus sofrimentos".


Sobre o ministro deste sacramento, diz o Direito Canônico: Cân. 1003- § 1. - Todos os sacerdotes, e só eles, administram validamente a Unção dos Enfermos. § 2. - O dever e o direito de administrar a Unção dos Enfermos competem aos sacerdotes, a quem foi confiada a cura de almas, em relação aos fiéis entregues aos seus cuidados pastorais; por causa razoável, qualquer outro sacerdote pode administrar este sacramento, com o consentimento, ao menos presumido, do sacerdote acima referido.


E o Catecismo da Igreja Católica esclarece : 1516. - Só os sacerdotes (bispos e presbíteros) são ministros da Unção dos Enfermos. É dever dos pastores instruir os fiéis acerca dos benefícios deste sacramento. Que os fiéis animem os enfermos a pedir ao sacerdote para receberem este sacramento. E que os doentes se preparem para o receber com boas disposições, com a ajuda do seu pastor e de toda a comunidade eclesial, convidada a rodear, de modo muito especial, os doentes, com as suas orações e atenções fraternas. Como usualmente, se é possível, o doente deve confessar-se, é por isso que só o sacerdote pode administrar este sacramento. Desde a primitiva Igreja, os Apóstolos, à imitação de Jesus, usavam os óleos e a imposição das mãos para curar os doentes.


O Catecismo da Igreja Católica lembra : 1512. - Na tradição litúrgica, tanto no Oriente como no Ocidente, temos desde os tempos antigos testemunhos de unções de doentes praticadas com óleo benzido. No decorrer dos séculos, a Unção dos Enfermos começou a ser dada cada vez mais exclusivamente aos que estavam pestes a morrer. Por causa disso, tinha recebido o nome de "Extrema Unção". Porém, apesar dessa evolução, a Liturgia nunca deixou de pedir ao Senhor pelo doente, para que recuperasse a saúde, se tal fosse conveniente para a sua salvação. S. Justino, advogado, dizia em 150 que a Eucaristia era levada aos doentes e eram feitas preces por eles, mas sem qualquer fórmula especial. Tanto os sacerdotes como os leigos podiam ungir os doentes. 

Mas a Igreja conhece um rito próprio de que o Catecismo da Igreja Católica dá testemunho: 1510. - Entretanto, a Igreja dos Apóstolos conhece um rito próprio em favor dos enfermos, atestado por S. Tiago : "Alguém de vós está doente ? Chame os presbíteros da Igreja para que orem por ele, ungindo-o com o óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o confortará; e, se tiver pecados, ser-lhes-ão perdoados" (Tg. 5,14-15). A Tradição reconheceu neste rito um dos sete sacramentos da Igreja. 
     Durante as reformas do século VIII, foi organizado o ritual, no governo de Carlos Magno, e a prática da Unção dos Enfermos foi reservada aos sacerdotes. No século IX em que o sacramento da Penitência começou a relacionar-se com a Unção dos Enfermos, era costume na Europa que os doentes e os que estavam em grave perigo de vida, fossem Ungidos com o sacramento dos doentes. Por causa das graves penitências impostas na Confissão, as pessoas guardavam a confissão para a hora da morte. No século XII este sacramento era considerado como a última Unção antes da passagem para a eternidade, razão pela qual mais tarde, o Concílio de Trento (1545-1563), lhe chamou no século XVI a Extrema Unção. Muito recentemente a Igreja ordenou que a este sacramento fosse dado o nome de Unção dos Enfermos. Foram, portanto, introduzidas alterações nos respetivos rituais em 18 de Janeiro de 1973. Transformara-se assim num rito bem diferente do que existia antes em que estava tão materializado que os que recebiam este sacramento estavam pouco capazes de colaborar com a graça de que o mesmo devia ser portador; e as próprias famílias, que o desejavam, com raras excepções, para os seus doentes, só o pediam quando eles já estavam inconscientes, com o erróneo sentido de que era preciso não perturbar o doente... Ora este sacramento procura, como os outros, levar o cristão à verdadeira identificação com Cristo e suscitar nos doentes verdadeiras disposições para enfrentar, com fé e resignação a própria doença.
     Este sacramento é fonte de riqueza espiritual e de graça para a Comunidade Cristã, pelo mérito do sofrimento, suportado com verdadeiro espírito cristão. E a Comunidade dos crentes, por seu lado, com a sua oração, com a sua presença e conforto, muito poderá ajudar o doente nestes momentos difíceis da sua vida. Presentemente já se organizam encontros para uma administração coletiva deste sacramento, para os doentes mais idosos ou em maior perigo, que pode ser feita dentro da própria Missa, para que toda a Comunidade se una às preces da Igreja pelos doentes.
      Cân. 1002. - Pode realizar-se, em conformidade com as prescrições do Bispo diocesano, a celebração comum da Unção dos Enfermos, simultaneamente para vários enfermos, que estejam convenientemente preparados e devidamente dispostos. Quando este sacramento é administrado fora da Missa, se o doente o pode fazer, confessa-se primeiro, é ungido depois e recebe também a Sagrada Comunhão sob a forma de Viático.(cf.Cân.921).


O Catecismo da Igreja Católico ensina: 1524. - Àqueles que vão deixar esta vida, a Igreja oferece-lhes, além da Unção dos Enfermos, a Eucaristia como viático. Recebida neste momento de passagem para o Pai, a comunhão do Corpo e Sangue de Cristo tem um significado e uma importância particulares. É semente de vida eterna e força de ressurreição, segundo as palavras do Senhor : "Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia"(Jo.6,54). Sacramento de Cristo morto e ressuscitado, a Eucaristia é, nesta hora, sacramento de passagem da morte para a vida, deste mundo para o Pai. Nesta cerimónia o ministro que faz a unção do doente, representa a Comunidade, cuja esperança e cujas orações tornam o doente mais forte na sua doença e pode até recuperar a saúde. Através deste sacramento, portanto, toda a Igreja ora para que Cristo ressuscitado seja o Alívio e a Salvação daqueles que são ungidos.
      A Igreja ensina que a Unção dos Enfermos torna as pessoas mais fortes no corpo e na alma e pode perdoar os pecados actuais e purificar ainda de algumas das penas temporais (no Purgatório), devidas pelos pecados já perdoados. Este sacramento é um sinal do grande amor de Cristo que se relaciona com a saúde do corpo e da alma dos membros da Comunidade cristã. Lembra ainda o que Cristo sofreu pela humanidade. Não é, portanto, necessário que uma pessoa esteja mesmo em perigo iminente e grave de vida (in articulo mortis) para que possa e deva receber a Unção dos Enfermos.


No documento da Igreja, Rito da Unção Pastoral dos Doentes, que foi publicado pelo Vaticano em 1972, ficou estabelecido, a respeito deste sacramento, e de quem o pode receber, o seguinte :


1. Todos os que estiverem gravemente doentes, devido à sua doença ou à sua velhice. (cf.Cân. 1004 § l).


2. Pessoas idosas, se elas estão em precárias condições de saúde, ainda que presentemente não estejam em perigo de vida.


3. Crianças e jovens doentes, se tiverem suficiente uso da razão para serem confortados por este sacramento.


4. Pessoas que tenham recuperado a saúde depois de terem recebido este sacramento.


5. Pessoas que recuperaram a saúde depois de terem recebido este sacramento, podem recebê-lo de novo se estiverem em grave perigo de vida.(cf. Cân. 1004 § 2).


6. Uma pessoa doente deverá ser ungida antes de uma operação cirúrgica ainda que não esteja envolvida em doença grave.


O Catecismo da Igreja Católica esclarece este ponto novo :


1515. - Se um doente que recebeu a Santa Unção recupera a saúde, pode, em caso de nova grave enfermidade, receber outra vez este sacramento. No decurso da mesma doença, o sacramento pode ser repetido se o mal se agrava. É conveniente receber Unção dos Enfermos na iminência duma operação cirúrgica importante. E o mesmo se diga a respeito das pessoas de idade, cuja fragilidade se acentua.


     No caso de haver dúvida sobre o uso da razão de uma criança ou se uma pessoa ainda vive, administra-se o sacramento sob condição. A uma pessoa comprovadamente morta já se não pode administrar este sacramento, não só porque já não lhe aproveita, mas também pelo respeito que se deve a um sacramento. É preciso ter na sua devida conta que a Unção dos Enfermos não é um sacramento de mortos nem para pessoas que já não estão no pleno uso das suas faculdades. 
     A Unção dos Enfermos é um sacramento de vivos. A Igreja determina que se não administre este sacramento aos que "perseveram obstinadamente em pecado grave manifesto".(cf. Cân.1007).

domingo, 11 de março de 2012

O Sacramento da Penitência



     A reconciliação torna-se necessária porque se deu a ruptura do pecado, da qual derivaram todas as outras formas de ruptura no íntimo do homem e à sua volta. A reconciliação, portanto, para ser total exige necessariamente a libertação do pecado, rejeitado nas suas raízes mais profundas. Por isso, há uma estreita ligação interna, que une conversão e reconciliação: é impossível dissociar as duas realidades, ou falar de uma sem falar da outra. A nova vida da graça, recebida no Batismo, não suprimiu a fragilidade da natureza humana nem a inclinação para o pecado (isto é, a concupiscência). O Senhor ressuscitado instituiu este sacramento, para a conversão dos batizados que pelo pecado d’Ele se afastaram. Na tarde de Páscoa, o Senhor se mostrou aos Apóstolos e lhes disse: «Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoar os pecados serão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes serão retidos» (Jo 20, 22-23).
     O pecado é uma ofensa a Deus, na desobediência ao seu amor. Fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. O pecado arrasta ao pecado e a sua repetição gera o vício. Podemos ainda distinguir entre pecado mortal e venial. Comete-se pecado mortal quando, ao mesmo tempo, há matéria grave, plena consciência e deliberado consentimento. Este pecado destrói a caridade, priva-nos da graça santificante e conduz-nos à morte eterna do inferno, se dele não nos arrependermos. É perdoado ordinariamente mediante os sacramentos do Batismos e da Penitência ou Reconciliação. O pecado venial, que difere essencialmente do pecado mortal, comete-se quando se trata de matéria leve, ou mesmo grave, mas sem pleno conhecimento ou sem total consentimento. Não quebra a aliança com Deus, mas enfraquece a caridade; manifesta um afeto desordenado pelos bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes e na prática do bem moral; merece penas purificatórias temporais.
     Cristo confiou o ministério da reconciliação aos seus Apóstolos, aos Bispos seus sucessores e aos presbíteros seus colaboradores, os quais portanto se convertem em instrumentos da misericórdia e da justiça de Deus. Eles exercem o poder de perdoar os pecados no Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Todo o fiel, obtida a idade da razão, é obrigado a confessar os seus pecados graves ao menos uma vez por ano e antes de receber a Sagrada Comunhão. Devem-se confessar todos os pecados ainda não confessados, dos quais nos recordamos depois dum diligente exame de consciência. A confissão dos pecados é o único modo ordinário para obter o perdão. 
    Dada a delicadeza e a grandeza deste ministério e o respeito devido às pessoas, todo o confessor está obrigado a manter o sigilo sacramental, isto é, o absoluto segredo acerca dos pecados conhecidos em confissão, sem nenhuma exceção e sob penas severíssimas.

Os efeitos do sacramento da Penitência são:

- a reconciliação com Deus e portanto o perdão dos pecados;

- a reconciliação com a Igreja; a recuperação, se perdida, do estado de graça;

- a remissão da pena eterna merecida por causa dos pecados mortais e, ao menos em parte, das penas temporais que são consequência do pecado;

- a paz e a serenidade da consciência, e a consolação do espírito;

- o acréscimo das forças espirituais para o combate cristão

     O apelo à conversão ressoa continuamente na vida dos batizados os quais têm a necessidade da conversão. Esta conversão é um empenho contínuo para toda a Igreja.


Fonte: Canção Nova