segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Tempo Quaresma

 

 Quaresma

    Depois das técnicas para ler a bíblia é primordial voltarmos para o tempo litúrgico em que vivemos! A Quaresma, um longo período para reflexão de nossas vidas é a preparação para a chegada da páscoa. 
     Esse período é reservado para reflexão, a conversão espiritual, ou seja, nós devemos nos aproximar de Deus visando o crescimento espiritual. Somos convidados a fazer uma comparação entre nossa vida e a mensagem que nos revela nos Evangelhos, esta comparação significa um recomeço, um renascimento para questões espirituais e de crescimento pessoal.
     Devemos intensificar a pratica dos princípios essenciais de nossa fé com o objetivo de ser um novo homem e proporcionar o bem para os demais irmãos em Cristo. Essencialmente é um período de retiro espiritual voltado reflexão onde nós cristãos nos recolhemos em Oração e penitência para prepararmos o nosso espírito para acolher o Cristo Vivo, na páscoa. Assim retomando questões espirituais, simbolicamente, o cristão esta renascendo, como o Cristo.
     A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência.
     Cerca de duzentos anos após o nascimento de Cristo, os cristão começaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Por volta do ano 350 d. C., a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta dias assim surgindo a Quaresma, tendo em vista a passagem de Jesus no deserto onde ele viveu este período antes de sua Ressurreição.






continua...



domingo, 21 de fevereiro de 2010

M) Lectio Divina



Este é, certamente, um dos métodos mais falados actualmente. A primeira coisa que nos poderá interpelar é a expressão latina Lectio Divina, que vem desde os Padres da Igreja, e que significa “leitura divina” ou seja, Leitura da Sagrada Escritura. Devemos ao concílio Vaticano II a oficialização desta antiquíssima maneira de ler a Bíblia, que estava adormecida na Igreja depois das controvérsias da Reforma. Trata-se, fundamentalmente, duma leitura crente e orante da Bíblia que encontra as suas raízes no Novo Testamento. Lucas apresenta-nos Jesus a convidar os discípulos de Emaús a reler o Antigo Testamento a partir do acontecimento da Páscoa (Lc 24,13-35). E podemos dizer que os Evangelhos seguem, em grande parte, esta dinâmica. A Lectio Divina (LD) pode assumir diferentes formulações e práticas. Vamos aqui apresentar o que este método de leitura bíblica tem de essencial.
Origem e história: Podemos dizer que a Lectio Divina é tão antiga como a Igreja, porque consiste, essencialmente, em rezar a Palavra, da qual ela depende como a água da fonte (DV 7.10.21). É, portanto, a leitura crente e orante da Bíblia, baseada na Palavra de Jesus e no Seu Espírito: Tenho-vos dito isto, estando convosco, mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito (Jo 14,25-26; ver 16,12).
Foi Orígenes (séc.III) quem baptizou a Lectio Divina com este belo nome. Generalizou-se no séc. IV e V, como maneira predominante de ler a Bíblia, e, a partir desta leitura, veio a leitura do Ofício Divino.
Como método de leitura, encontra-se dentro da própria Bíblia (releitura do Antigo pelo Novo Testamento) e foi o método de interpretação bíblica que prevaleceu no tempo de S. Bento. A regra deste santo Patriarca repousa sobre este método de oração e interpretação da Bíblia. Mas foi já na baixa Idade Média que a Lectio Divina foi estruturada, sobretudo com as ordens mendicantes.
Guigo II, abade da Grande Cartucha, deixou-nos, por volta de 1150, uma apresentação orgânica da Lectio Divina, com o longo título: “Escada de Jacob - Tratado sobre o modo de orar, escada dos monges e escada do Paraíso”.[1]
S. Francisco de Assis é certamente devedor da LD e esta foi talvez um dos factores que contribuiu para que ele fosse um apaixonado pela Palavra de Deus. Para ele, ler a Palavra era também rezar a Palavra. As Ordens religiosas, que surgiram no séc. XIII, utilizaram todas o método da Lectio Divina, levando ao povo este método orante da Bíblia.[2]
Esta oração está, pois, ligada à teologia monástica que, ao contrário da escolástica, é mais vital, mais ligada ao coração e ao ambiente popular. Poderíamos chamá-la, por isso, uma “leitura saborosa (ou sapiencial) da Bíblia”.
A partir da Idade Média, deixou de ser aconselhada, porque entrou na Igreja o receio de ler a Bíblia; posteriormente, o medo das heresias e do protestantismo fez o resto. Os católicos perderam, assim, em grande parte, o contacto com a fonte da sua fé. Santa Teresa de Ávila não tinha licença para ler o Antigo Testamento… Sem a Palavra de Deus, as ordens religiosas, e outras associações, passaram a insistir na “leitura espiritual”, isto é, a trocaram a Palavra de Deus por palavras humanas piedosas.
O Concílio Vaticano II, ao insistir na Palavra de Deus, como base de toda a espiritualidade cristã, insistiu também na Lectio Divina como método de oração: Debrucem-se, pois, gostosamente sobre o texto sagrado, quer através da sagrada liturgia, rica em palavras divinas, quer pela leitura espiritual (piam lectionem…”) (nº 25).
Ligar a fé e a vida: Um dos grandes problemas do cristianismo de hoje é o hiato entre fé e vida, que encontra na frase “sou católico não praticante” uma espécie de anti-programa. Segundo o card. de Milão, Carlo Maria Martini, um dos grandes impulsionadores deste método de leitura da Bíblia, a Lectio Divina pretende despertar para o sentido do mistério escondido nas páginas da Bíblia, a abertura ao infinito e
a tensão para Deus. Por isso, “Sacra página”, “páginas santas”, “páginas do Livro de Deus” e outras expressões semelhantes eram nomes que os Padres da Igreja, davam às Escrituras. Porque elas encerram um mistério que nenhum homem poderá desvendar completamente [3].
A ligação da fé com a vida repousa no dinamismo interno de toda a palavra, que, para além duma simples dimensão fática, tem a dimensão poética (de poieo=fazer, agir). Toda a palavra tem em si um dinamismo do concreto e da acção. Na Bíblia, esta dimensão é tal que palavra e objecto, significante e significado se confundem e dizem do mesmo modo (dabar). A Lectio Divina abrange, como método de leitura bíblica, as duas dimensões essenciais da Palavra e da vida.
O Método: A leitura espiritual da Bíblia necessita dum método, para ser criativa, segura e profunda. Nada de importante na vida, muito menos quando se trata da oração, pode ser fruto do acaso, apenas da boa vontade ou da emoção. É neste sentido que uma leitura popular da Bíblia pode ser tão profunda como uma leitura mais sistemática. A Lectio Divina repousa, tradicionalmente, depois do já referido Guigo II, sobre quatro etapas ou degraus, que pretendem elevar o leitor-orante da terra ao Paraíso.
Uma observação prévia, antes de entrar no método propriamente dito: não existe uma clara distinção ou fronteira entre as diferentes etapas ou momentos do método, porque cada etapa segue, com toda a naturalidade, a anterior.
I. LECTIO (leitura)
apropriar, situar, respeitar o texto.
Trata-se duma “leitura” em sentido etimológico, isto é, duma “recolha” (de lego), muito mais rica do que um simples “ler”. Porque se trata-se dum “ler” com a finalidade de “recolher”, não tanto conhecimentos de tipo intelectual quanto o sentido profundo da Palavra: mensagem, sugestões, inspirações.
Trata-se da primeira etapa do processo da apropriação da Palavra pelo leitor que, por isso, privilegia o ler, o re-ler, a análise dos verbos, as personagens, os sentimentos, os ambientes…. É por isso que esta “lectio” se qualifica de divina. Poderia dizer-se, talvez, ainda melhor “sagrada”. Mas o mais importante é a lectio. Leitura e re-leitura, em ordem a uma apropriação profunda da Palavra.
Esta primeira etapa não é fácil, como poderia parecer à primeira vista. Trata-se duma espécie de visita que fazemos a um amigo: há gestos, amizade, respeito, silêncios, atenção a um determinado cerimonial. Como se trata dum amigo, a leitura é desinteressada, perseverante, quotidiana.
A lectio é ainda o ponto de partida e não o ponto de chegada. Por isso, exige que ponhamos o pé em terreno firme: porque só sobre o terreno firme duma Lectio bem feita poderá o crente-leitor entrar na etapa seguinte, no diálogo da Meditatio. A exegese, como método científico de leitura bíblica, coloca-se ao serviço da “lectio”, para que esta seja mais eficaz, e o texto lido seja respeitado na sua autonomia. Este modo de proceder levará o leitor a recolher o melhor do texto escrito na Bíblia. Deste modo, a lectio tem três diferentes níveis:
* Nível literário: fixar o texto e responder a questões muito simples, como estas: Quem? Onde? Como? Porquê? Que ligação entre texto e contexto?
* Nível histórico: Procurar o contexto histórico em que o texto foi escrito e analisá-lo sob quatro aspectos: económico, social, político, ideológico. Descobrir os problemas aos quais o texto pretende dar resposta e que, de algum modo, aparecem no fundo ou à superfície do texto.
* Nível teológico: descobrir a mensagem para o homem, nesta situação histórica concreta: como é que o texto a manifesta, modo como as pessoas desse tempo representavam a Deus, como é que Ele Se lhes revelava, como é que o povo vivia esta mensagem.
A finalidade da Lectio não é o estudo científico do texto, mas este é um meio para perceber o texto a haver uma boa leitura. Deste modo, a Lectio prepara o leitor / ouvinte da Palavra para uma melhor “auditio” da mesma. Este estudo depende das capacidades e exigências do leitor e dos instrumentos de trabalho que ele é capaz de utilizar. O que mais interessa é, de facto, conseguir vencer a distância entre o hoje do leitor e o ontem, por vezes muito remoto, do texto e das suas circunstâncias. Na Idade Média, Guigo II já era exigente, quando dizia: “estudo assíduo, com espírito atento”; e Paulo VI, dizia a este propósito, que se deve adquirir uma certa conaturalidade entre as preocupações actuais e o objecto do texto (do passado), para se poder escutá-lo. Por outras palavras, temos que cavar, ao mesmo tempo, no texto e na nossa experiência vital de hoje. O texto pode não nos falar, pode esconder-nos o seu sentido profundo, não por falta de estudo, mas por falta de aprofundamento da nossa própria vida.
É a ligação entre estes dois factores fundamentais da lectio, ou melhor, as duas leituras, que podem evitar o fundamentalismo. Este depende duma deficiente leitura dos textos, nas duas vertentes enunciadas: por um lado, separa o texto da vida e da história do povo, fazendo dele um absoluto, o único lugar da manifestação da vontade de Deus. O resto da vida e da história do Povo nada mais diriam sobre a vontade de Deus. Por outro lado, o fundamentalismo anula a acção da Palavra de Deus na vida e na história concreta das pessoas, rouba-lhes a consciência crítica, leva-as a um moralismo sem ligação com a Palavra, a um individualismo requintado e a um espiritualismo vazio de conteúdos libertadores da pessoa e da comunidade. Este é a leitura de que mais gostam, por motivos óbvios, os ditadores de todas as cores e épocas. Porque esta perspectiva lhes permite manipular a Bíblia à sua vontade. Esta leitura alienante da Bíblia só pode ser corrigida, situando o texto no seu contexto histórico passado, vendo aí, ao mesmo tempo, um reflexo da situação actual, com as suas luzes e sombras. Por isso, a lectio nunca se poderá desligar da vida, porque é, simultaneamente, leitura da Bíblia e leitura da vida. Ou melhor, uma maneira de ler que dá sentido à vida.
Como estamos a ver, a lectio cria uma certa osmose entre leitor e autor, história do passado e história do presente do leitor. A este propósito, dizia o monge Cassiano que o leitor fica de tal modo penetrado dos mesmos sentimentos com os quais o texto foi escrito, que se torna, de algum modo, seu autor[4]. Damo-nos, então, conta de que Deus nos quer falar. Entramos, então, no silêncio. Estamos preparados para a escuta da Palavra de Deus, para a etapa seguinte, a Meditatio.
Este estudo do texto inclui também a “auditio”: esta poderá inclusive ser física, preparando a uma certa memorização “semita” da Palavra (haggadah) e à meditatio. A “lectio” inclui, portanto, os olhos, a mente e o ouvido, mas unicamente como canais de passagem da Palavra para o mais recôndito do homem: o coração, como o Senhor diz a Ezequiel: Filho do homem, todas as palavras que Eu te disser, guarda-as no teu coração, escuta-as com atênção” (3,10). É no coração que se encontra a sala onde o Senhor é acolhido[5].
II. Meditatio (meditação)
ruminar, dialogar, actualizar
Se a Lectio respondia à pergunta: “Que diz o texto?”, a Meditatio pretende responder à pergunta: “Que diz o texto, para mim?”. A Lectio pretendia descobrir as correspondências entre o texto e os seus diferentes contextos, a mensagem que o texto dava aos fiéis do seu tempo. Desde então para cá, os contextos são completamente diferentes, os conflitos e problemas são outros. Mas, como Palavra de Deus que é, a Bíblia foi escrita também para o Povo de Deus de hoje; o texto é portador de valores que não caducam na História nem envelhecem com o tempo. Por isso, a Meditatio é, antes de mais, uma actualização do texto, para mim, um quedar-se nos valores permanentes do texto. Ainda segundo Guigo II, ” a meditação é uma acção da mente que procura com ardor, sob a guia da razão, o conhecimento da verdade escondida” [6].
Como se faz, concretamente, a Meditatio? Guigo II dizia que é necessário utilizar a razão e o sentido comum para encontrar a verdade escondida no texto. Para isso, é necessário dialogar com o texto, colocando-lhe certas questões, que o levam a entrar no nível da nossa vida:
-Que semelhanças e diferenças existem entre as circunstâncias do texto e as de hoje?
-Conflitos de ontem e de hoje? Que diz o texto à situação de hoje?
-Que mudança de comportamento me inspira no aqui e agora da minha vida pessoal e social?…
Um outro modo de actuar o método poderá ser o de ruminar, mastigar o texto, como fez Maria para os acontecimentos que ocorriam à sua volta, até encontrar o que ele me quer dizer (ver Lc 2,19.51; Sl 1,2; Is 26,8). Podemos tentar resumir o texto numa só frase do mesmo, que sirva para repetir, guardar para todo o dia, de modo a servir não só de lema, mas que chegue a fazer parte da vida desse dia.
Este ruminar a Palavra faz que ela se torne a “espada” que julga e corta (Heb 4,12-13). A Meditatio faz que a Palavra deite abaixo máscaras, preconceitos, alienações nas quais nos encontramos muitas vezes. Cassiano dizia, a este propósito: “Instruídos pelo que nós próprios sentimos, já não vemos o texto apenas como uma coisa que escutámos, mas como algo que experimentamos e tocamos com as nossas
próprias mãos; não como uma história estranha e desconhecida, mas como algo que fazemos brotar do mais profundo de nós próprios, à imagem dos sentimentos que fazem parte do nosso próprio ser. Insistimos: não é a leitura que nos permite penetrar no sentido das palavras, mas a nossa experiência, adquirida antes, na vida de todos os dias” (Consollationes X,11)[7].
Desaparece, assim, em parte, a diferença entre Bíblia e vida, entre a Palavra de Deus e a nossa palavra. É nesta quase identificação que se encontra o significado profundo que a Bíblia tem para nós. O mesmo Cassiano diz, inclusive, que esta percepção profunda da Palavra não advém do estudo mas da experiência quotidiana. Alguém explicou, assim, a relação entre as várias partes: a leitura faz o fio eléctrico; a experiência cria a energia, a meditação liga o botão e faz que a energia corra, iluminando o texto. Portanto, a linha e a energia são necessárias para que haja luz. A vida ilumina o texto, o texto ilumina a vida.
A Meditatio aprofunda a dimensão pessoal da Palavra; esta tem valor em si mesma, mas o seu maior valor é relacional, isto é, torna-se um veículo de amor entre Deus e o homem[8]. Uma palavra de amor deixa sair energia, recria as pessoas. Pela Palavra, a pessoa eleva-se até à Pessoa. É aqui que a Lectio Divina atinge a dimensão mística. Por outras palavras, a Lectio rompe a casca, a Meditatio faz provar os frutos do Espírito: “A letra mata; o Espírito é que dá vida” (2Cor 3,6; ver 2Tim 3,16).
Pela Meditatio, o Espírito comunica-se a nós, inspira-nos, dá-nos os mesmos sentimentos de Jesus Cristo (Fil 2,5), leva-nos à Verdade total (Jo 16,13), deixa-nos compreender que, sem Ele, nada podemos fazer (Jo 15,5). O Espírito que enche toda a terra enche também o nosso coração (Sab 1,7). É Ele o mesmo Espírito que falava aos profetas e que fará de nós os profetas de hoje, pela Sua Palavra. Mas a Meditatio, para além de ser uma actividade individual, é também comunitária. O sentido mais profundo e total da Palavra vem da experiência comunitária e da oração em grupo. Daí a necessidade de levar a Lectio divina também aos grupos e às familias.
A passagem da Meditatio à Oratio, tal como acontecia na passagem da Lectio à Meditatio, faz-se progressivamente. Como acontece com a passagem duma estação à outra, de uma idade à outra. Os critérios podem ser os seguintes: A Meditatio actualiza o texto de modo a eu /nós percebermos o sentido do texto para nós, aqui e agora. Quando isso se tornou mais claro, faz-se, então, a passagem para a etapa seguinte, com uma questão, como esta. ” E agora que vou / vamos dizer a Deus? Esta questão depende, portanto, da certeza de que Deus me chama a colaborar com Ele. Mas esta colaboração com Deus na minha / nossa História põe a descoberto todos os meus medos e fraquezas, tal como aconteceu com os profetas da Bíblia, chamados a anunciar e a viver uma Palavra difícil (ver Is 6,1-13; Jer 1,4-19). Podemos dizer que a Meditação bem feita leva-nos insensivelmente à Oração, como a semente leva à planta.
III. Oratio (oração)
suplicar, louvar, orar
Na Lectio, a pergunta era: Que diz o texto?; na Meditatio, perguntávamos: Que me diz o texto? Agora, a pergunta fundamental é: Que me faz dizer o texto a Deus? Até agora, era o Senhor a falar connosco, a apresentar-nos a Sua proposta; agora, é o momento da nossa resposta à proposta de Deus. Esta é a característica fundamental da oração cristã. E esta minha resposta exprime-se em sentimentos de louvor, súplica, acção de graças, pedido de perdão…Guigo dizia: “A oração é o impulso fervente do coração a Deus, pedindo-lhe que Ele evite os males e nos conceda coisas boas”[9].
Devemos, no entanto, afirmar que este momento de Oração não impede que haja oração nas outras duas etapas anteriores. Porque, na Lectio Divina, as etapas não são estanques nem cronologicamente definidas. As quatro etapas são quatro atitudes que têm momentos típicos mas não únicos para se manifestar. No princípio da Leitura invoca-se o Espírito do Senhor da Palavra; a oração está presente desde o princípio e a Lectio, por exemplo, adquire maior claridade à medida que as etapas avançam. A Meditação está já cheia de oração. Mas este é o momento em que se manifesta mais profundamente a Oração.
A atitude fundamental da Oração deverá ser, mais uma vez, a de Maria: Faça-se em Mim segundo a Tua Palavra (Lc 1,38). Maria não diz uma palavra da Bíblia, mas uma palavra saída dum coração que, antes, meditou uma Palavra, que lhe purificou o olhar e o coração (Lc 2,19.51). Só um coração purificado pela Meditação da Palavra é capaz de a acolher e deixar incarnar - o que aconteceu n’Ela de maneira excelsa e total. Só os que a sentem encarnada na vida são capazes de a rezar, cantando, como fez Maria, no Magnificat (Lc 1,46-55).
Esta oração, essencialmente espontânea, pode assumir várias formas: louvor, petição, súplica de perdão… e deve reflectir sempre uma dimensão comunitária. Pode utilizar orações já feitas, sobretudo Salmos. Estes eram, na Idade Média, aprendidos de cor e alimentavam a oração pessoal do monge. Por este motivo, foram distribuídos ao longo das diferentes “horas” do dia. Os tempos são outros, mas o método pode ser hoje semelhante: guardar uma frase que alimente o coração e encha a memória, ao longo do dia.
Esta Palavra lida, meditada, rezada não é simples palavra para dizer; é uma palavra criadora. De algum modo, é sacramental: faz o que diz e diz o que faz. Ou seja, é um dabar (palavra), sempre eficaz. Toda a palavra rezada está chamada a entrar na vida concreta: A Palavra diz e faz; anuncia e arrasta; ensina e anima; ilumina e reconforta. É luz e força, é Palavra e Espírito. É mediante esta Palavra que a Lectio Divina tem as suas raízes na Bíblia e valoriza as duas vertentes do Dabar bíblico: a Lectio descobre a sua mensagem; a Meditatio, e sobretudo a Oratio, comunica a sua força e leva à “encarnação” na vida.
A prática pastoral tem separado muitas vezes estes dois aspectos. Certos movimentos espiritualistas empenham-se na oração mas não fazem o mesmo na vida, na atitude crítica e na intervenção social. Isto acontece por uma deficiente leitura do texto bíblico: este é desligado do seu contexto, o que leva a um moralismo sem bases, a um certo fundamentalismo e individualismo alienantes. Por isso, a sua meditação e oração não estão fundamentadas nem no texto bíblico nem na realidade
da vida de hoje. No extremo oposto, encontram-se certos movimentos de libertação, que se alimentam do Evangelho. Fazem uma boa Leitura, mas falta-lhes a fé perante muitos problemas da realidade humana. Acham que o tempo da Oração é tempo perdido e o importante é a intervenção directa e imediata na sociedade.
A Lectio Divina bem praticada corrige um outro extremismo. A Oração tem sempre duas vertentes, ou melhor duas direcções: a vertical e a horizontal. É libertadora do orante - em direcção a Deus; e é libertadora dos irmãos - em direcção aos oprimidos de hoje.
IV. Contemplatio (contemplação)
discernir, agir, saborear
Quando se passa de Oratio à Contemplatio? Alguem disse que a Contemplatio é o que fica nos olhos e no coração, quando acabou a Oratio. É como o fruto da árvore. A Contemplatio é, fundamentalmente, a concentração da minha atenção, não em sentimentos ou em orações, mas na Pessoa de Jesus e na Sua relação com o nosso mundo. Esta, sendo o ponto de chegada de todas as etapas da LD, exige um novo começo de todo o processo, isto é, torna-se o ponto de partida para nova Lectio, Meditatio, Oratio. O processo recomeça, sem nunca acabar. Porque há sempre lugar para uma leitura, meditação e oração mais profundas. É aqui que se situa a Contemplatio: um saborear, degustar, um novo modo de ver a vida e o mundo, que são vistos a partir de cima, a partir dos critérios de Deus. Este novo olhar de Deus no orante é a Contemplatio.
É olhar, saborear e agir novos. S. Agostinho diz-nos que, pela leitura da Palavra, Deus faz-nos contemplar e ver o mundo de modo diferente e leva-nos a transformá-lo, para que ele se torne, de novo, uma teofania. A Contemplação leva o orante a olhar mais para o mundo, de modo a poder encontrar nele toda a profundidade dos acontecimentos e a presença escondida de Deus.
Como estamos a ver, esta Contemplação é totalmente diferente da daquele que se retira do mundo, da política, dos sindicatos, dos problemas do bairro e da empresa, para “poder contemplar a Deus”. A verdadeira contemplação, para além do escutar, vai até ao fazer (Mt 7,24-28). Para os fundamentalistas, a Palavra de Deus encontra-se unicamente na Bíblia. O mundo, a vida e a história estão cheios de espíritos diabólicos. A LD abre-nos os olhos, dá-nos uma lente telescópica, para ver mais longe e mais profundamente.
A este respeito, dizia Guigo que a contemplação é “A escada dos monges que penetra as nuvens e procura os segredos do céu”, isto é, antecipa o futuro, dá-nos a visão das coisas a partir de Deus. E acrescenta, a título de resumo das diferentes etapas: ” A Leitura procura a doçura bem-aventurada; a Meditação encontra-a; a Oração pede-a e a Contemplação saboreia-a. A Leitura conduz o alimento à boca; a
Meditação mastiga-o e digere-o; a Oração verifica o seu gosto e a Contemplação é a doçura que dá a alegria. A Leitura toca a casca, a Meditação penetra no interior, a Oração formula o desejo e a Contemplação atinge o gosto e a doçura; a Contemplação é uma elevação do espírito acima de mim próprio; suspensa em Deus, ela saboreia as alegrias da doçura eterna”.
Segundo isto, a Contemplação relativiza o que é verdadeiramente relativo, quedando-se no que é Absoluto. E o contacto com o Absoluto torna-se a fonte da alegria e da esperança em todas as tribulações.
Deste modo, a Contemplação é o último degrau da subida à Sétima Morada, a uma torre muito alta: quanto mais se sobe, mais belo é o panorama.
Segundo o card. Martini, a LD produz a Discretio, isto é, a capacidade de seleccionar os valores que são conformes ao Evangelho e de rejeitar os que não o são. Produz ainda a Deliberatio, ou seja, a escolha comprometida dos valores do Evangelho. A Actio é o agir que se lhe segue.
Para terminar, poderíamos perguntar-nos: Será possível este método de leitura e de oração bíblicas na vida quotidiana? Comecemos por afirmar que o método pode assumir certas modalidades, segundo a cultura e a formação das pessoas ou se é praticado individualmente ou em grupo. Mas não pode esquecer as qualidades essenciais apontadas. Toca a cada um adoptá-lo às suas condições concretas.
Propostas simples de Lectio Divina
Na convicção de que a LD pode aplicar-se a todas as pessoas e a todas as circunstâncias, apresentamos aqui alguns modos simples de levar à prática a LD:
* Numa reunião de grupo qualquer, se pode fazer sempre um pouco de Lectio Divina:
- Proclamação da Palavra (breve);
- breve silêncio
- breve partilha sobre o que o Espírito comunicou a cada um no silêncio
- Oração comunitária, espontânea, como resposta àquela Palavra de Deus.
Este não será um “tempo perdido” num grupo de catequistas ou outro. Será o tempo mais útil, porque muito ajudará no desenvolvimento dos trabalhos.
* Criar nas paróquias um grupo ou grupos que possam preparar as leituras dominicais (leitores, acólitos, etc), seguindo este método simples. Os Grupos de Dinamização Bíblica fazem esta preparação durante um longo período de uma hora e meia a duas horas (ver 6.3).
* As famílias são convidadas, uma vez por semana, a ler um texto bíblico e a seguir o método simples acima referido. Isso muito contribuirá para a união mais íntima das nossas famílias de hoje[1]. A Oratio poderá ser um mistério do terço.
* Este mesmo método poderá seguir-se na preparação dos sacramentos (da reconciliação ou outro) ou mesmo no exame de consciência diário. Isso levar-nos-á a ver na Palavra de Deus a medida de confronto da nossa vida.
* Mas é, sem dúvida, na meditação diária que poderemos provar a verdade deste método de leitura bíblica. Um dia poderemos quedar-nos mais na Leitura, outro na Contemplação…

sábado, 20 de fevereiro de 2010

L) Método Cardijn


“Método Cardijn (Centro de Formação Cardijn-CEFOC, Namur, Bélgica) [1]
Este é um centro de formação sistemática de longa duração (entre 3 a 5 anos) para homens e mulheres dos ambientes populares. Esta formação é feita em grupo e uma vez por mês, além de 7 fins de semana por ano. A leitura da Bíblia é feita como resposta às questões pessoais e dos outros homens e mulheres de hoje. Esta leitura ajudará a fazer opções fundamentais na vida.
Mas a leitura da Bíblia não oferece uma resposta “em directo” aos problemas do homem de hoje. A Bíblia respondia directamente aos problemas das pessoas do tempo em que os seus livros foram escritos. Este pressuposto tem consequências para o modo de ler a Bíblia.
1. Tipo de leitura:
* A Bíblia é lida por si mesma e não como resposta directa aos problemas de hoje. Para isso, estudam-se os seus textos no seu ambiente político, económico e social, numa palavra, como um livro de outra cultura. Ela não responde automaticamente aos nossos problemas e não basta folhear a Bíblia para se dizer que já se conhece.
* A Bíblia não é vista apenas como um livro de estudo - para intelectuais. O leitor é um crente que se põe numa atitude de escuta atenta duma Pessoa.
* Grande importância é concedida ao método histórico-crítico, como meio dum estudo científico da Bíblia. Este tem igualmente em conta os géneros literários como meios de expressão das comunidades que escreveram o texto. O método estrutural é igualmente tido em conta, ainda que de mais difícil utilização.
Mas estes dois tipos de métodos realçam precisamente a distância que existe entre texto e leitor e entre a época da Bíblia e a nossa. Por isso, pode ser perigoso responder depressa à pergunta: ” O que é que o texto me diz?” Respostas apressadas podem levar a “leituras fundamentalistas”, que interpretam à letra o que vêem escrito na Bíblia, como se a Bíblia respondesse directamente a todas as questões de todos os homens e mulheres de todos os tempos.
2. Método concreto de leitura:
1ª etapa: Descoberta da sociedade do tempo da Bíblia
Este método afirma que só percebemos o texto quando sabemos o que ele queria dizer ao povo de Deus daquele tempo[2].
* O texto pode ter um ou vários contextos: Quando lemos certos textos, encontramo-nos com um contexto bem determinado: por exemplo, quando, nos anos 50, Paulo escreve aos Coríntios, podemos adivinhar os problemas que havia naquela comunidade; mas, isto complica-se, quando lemos o Evangelho de Lucas, que escreve para uma comunidade helenista, nos anos 80, o que tinha acontecido na Palestina, 50 anos antes. Temos, portanto, dois contextos históricos diferentes; mas tudo se complica ainda mais, quando lemos um texto do Êxodo, por exemplo: este
relata acontecimentos do século XII a.C., foi escrito no século VIII a.C. e o texto actual é produto de várias remodelações ou releituras… Sobretudo neste último caso, a ligação com o contexto histórico original é difícil de estabelecer, o que torna este problema ainda mais interessante.
* Leitura do texto pelo grupo: O grupo tem mais facilidade de desvendar o sentido do texto do que uma pessoa sozinha.
- O que diz o texto? Procurar no texto os indícios do que acontecia na sociedade daquele tempo: vida rural da Palestina, no tempo de Jesus e das cidades helenistas do tempo de Paulo. Estes elementos do texto dão-nos uma ideia mais vasta da sociedade. É isso que nos interessa.
- O “Imaginário social”: Interessa-nos saber como é que as pessoas daépoca compreendiam a sua própria vida. Detectamos isso através das suas reacções, palavras, silêncios… Deste modo, o texto bíblico manifesta aos leitores a mentalidade do tempo acerca de determinado problema.
* Estruturação do que se descobriu: Nesta segunda etapa, organizam-se os dados encontrados no texto sob as seguintes rubricas: economia, política, cultura, religião, relações sociais, vida quotidiana, relação homem-mulher, e outras, conforme a riqueza do texto. Esta primeira leitura exige muita atenção, para não esquecermos aspectos importantes, que muitas vezes estão nas entrelinhas.
* Informações suplementares: O texto nunca nos desvenda totalmente o seu próprio ambiente. Necessitamos, pois, de outras informações, para o compreender melhor. Estas estão nas notas da Bíblia, nas introduções, em livros escritos sobre estes assuntos.
2ª etapa: Descobrir a mensagem
* Ler o texto: depois de saber o que o texto diz, tenta-se descobrir o que ele quer dizer. Que pretendiam comunicar os autores do texto aos homens do seu tempo? Isto poderá ajudar-nos a encontrar no texto respostas para as nossas questões de hoje.
* Para facilitar este trabalho, fazem-se ao texto algumas perguntas:
- Quem faz? O que faz? O que diz? A quem? Como? Porquê? Estas técnicas podem ser pouco adaptadas a determinados textos. Por isso, poderemos utilizar outras mais adaptadas ainda:
- Alguns “Códigos”:
. Código actancial: Quais são os actores? Que fazem e que relações há entre eles: oposições, alianças?
. Código cronológico: Que indicações de tempo existem? Que lugar ocupam no texto e que sentido podem ter?
. Código topográfico: Quais são as indicações de lugar? Que deslocações existem no texto?
. Código analítico: O texto dá-nos indícios da análise da situação do seu tempo feita pelos próprios actores?
. Código estratégico: Há indicações de que os actores seguem uma estratégia? Etc.
- A análise do vocabulário e das personagens, assim como mudanças produzidas no texto são elementos igualmente importantes na leitura bíblica do “Método Cardijn”.
- A evolução do texto aparece nas diferenças da situação final com a situação inicial. Entre as duas, algo se passou de significativo. É nestes elementos que encontramos o sentido do texto.
- Quem fala a quem? Um texto está, muitas vezes, na terceira pessoa, como é o caso das narrativas. Mas, frequentemente, utiliza um nós, que se dirige a um vós. É pertinente saber de quem se trata.
3ª etapa: Ligação com o mundo actual:
A fidelidade ao texto e o respeito pela sua independência e pela sua história permite e exigem criatividade por parte do leitor e do grupo.
A Bíblia responde aos problemas dos homens do fim do século XX. Por outras palavras, na nossa leitura da Bíblia devemos sempre tentar a passagem para a vida de hoje.
*A resposta aos problemas de hoje surge depois de questões muito simples:
- O que é semelhante à nossa situação actual?
- O que é diferente?
Estas questões dão-nos, ao mesmo tempo, a dimensão do afastamento do texto em relação à nossa situação actual e da igualdade entre os homens de todos os tempos.
* Outras questões mais concretas se colocam, de acordo com o texto e com a situação actual vivida pelo grupo e pela sociedade de hoje.
* A ligação com a nossa sociedade nunca está completamente terminada. A Bíblia vai-nos fornecendo respostas diferentes, à medida das diferentes épocas da História. Além disso, o mesmo texto lido em grupos e sociedades diferentes oferece respostas diferentes. Por isso, ler a Bíblia é algo sempre apaixonante.
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[1]. As informações sobre este método de leitura da Bíblia foram fornecidas oralmente e por documentos escritos ao autor deste artigo, num congresso de Pastoral Bíblica da FEBICA, área da Europa latina, realizado em Toulouse (1-3 de Outubro de 1993).
[2]. Este método tem em conta a doutrina da encíclica de Pio XII, Divino Afflante Spiritu (1943) sobre a interpretação da Bíblia. Ver Alves Herculano, Documentos da Igreja sobre a Bíblia, Difusora Bíblica, Lisboa, 1991, p.175s.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

K) Estudo e celebração


1ª parte: Estudo (entre 30-60 minutos)
* Introdução (como no método “Bíblia-Vida”) com um cântico ou oração.
* Exposição dum tema por um perito ou por um membro do grupo. Esta exposição é de tipo académico e permite todo o tipo de diálogo e participação dos membros do grupo ou outras pessoas convidadas. Esta exposição pode fazer-se em todas as reuniões do grupo ou apenas em momentos especiais.
* Resumo final da mensagem e preparação dum dos textos discutidos para a celebração. O grupo, depois da dimensão do estudo e da compreensão intelectual, vai, seguidamente, perspectivar a Palavra na dimensão da fé e da oração.
2ª parte: Celebração:
Por motivos óbvios, esta segunda parte da reunião do grupo realiza-se com um único texto bíblico, seguindo o método da celebração do Caderno do Animador (ver 6.3): Proclamação da Palavra - Acolhimento da Palavra em silêncio - Partilha da Palavra - Compromisso com o Deus da Palavra.










(Obs: Esta é a décima postagem na sequência de A á M, em técnicas para ler a Bíblia, então não deixe de visitar. És muito importante para nós Cristãos).

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

J) Método de Kigali


Método de estudo em grupo: Método de Kigali
 [1]
Apresentamos este método, organizado na África, concretamente na capital do Ruanda, como um modo mais de prestar atenção ao texto em si mesmo do que à resposta ao texto, pela oração e pela celebração da Palavra.
1. Primeiro contacto com o texto:
* Ler o texto escolhido duas vezes, em voz alta.
* Anotar rápida e imediatamente, depois desta primeira leitura, as primeiras impressões: o que me agrada, o que não me agrada muito, o que me produz admiração, o que não gosto. Este primeiro tempo dura apenas alguns minutos.
2. Observar o texto:
É necessário saber acolher um texto e aceitá-lo tal como ele é. Ele não é um espelho que me reenvia o meu rosto, onde eu vejo o que me agrada. É a ele que eu devo procurar, observar. Eis aqui alguns meios que me facilitam a observação:
* Reparar no princípio e no fim do texto (alguns versículos). Ver o que aconteceu, que transformação se produziu entre o princípio e o fim;
* Descobrir os lugares que são mencionados no texto;
* Anotar as personagens do texto e as suas relações:
- Qual parece ser o personagem principal? Que diz e que faz?
- Quem está do seu lado? Quem está contra? Quem o ajuda?
- Quem é activo? Quem é passivo?
* Reagrupar as palavras do texto que pertencem à mesma “família”, que se referem ao mesmo tema (campo semântico). Cada texto põe em acção, frequentemente, algumas famílias de palavras bem concretas.
* Anotar as oposições e os contrastes do texto, se os houver.
3. Procurar informações fora do texto:
As informações fornecidas pelos especialistas podem esclarecer o texto:
* Lendo as notas e os lugares paralelos da Bíblia.
* Utilizar um dicionário ou vocabulário bíblico.
4. Questionar o texto: Já que os Evangelhos foram escritos depois da Ressurreição, por crentes e para crentes, podemos tentar encontrar alguns pontos de referência:
A - Para o Novo Testamento:
a) O acontecimento da vida de Jesus (ou dos discípulos) de que fala o texto.
b) A fé em Cristo ressuscitado, que aqui se exprime, claramente ou de forma velada, e a esperança que ela suscita.
c) A vida da Igreja que está subjacente ao texto: qual era a necessidade que os cristãos tinham, para escreverem e conservarem este texto.
d) Que alusões directas ou indirectas ao Antigo Testamento existem?
Para o Antigo Testamento, procurar:
a) A História de Israel ou o acontecimento sobre o qual este texto se
apoia.
b) A fé no Deus libertador, que se exprime claramente ou de modo
velado.
c) A vida dos crentes de Israel, que está subjacente ao texto: que
necessidades tinham, ao escreverem e conservarem este texto?
d) Que alusões directas ou indirectas a outros textos do Antigo
Testamento existem?
5. Apropriação do texto (que sentido para hoje):
* Segundo o que foi observado nos quatro primeiros tempos, tentar perceber o testemunho de fé que se depreende do texto, a parte da “Boa Nova” que nele se encontra.
* Como é que este testemunho de fé (Boa Nova) pode esclarecer, ajudar a nossa fé, no tempo e lugar onde vivemos?
* Como podemos traduzir, por outras palavras, este antigo texto a fim de ser compreendido pelos que nos rodeiam?
* As impressões que tivemos no primeiro contacto com o texto não se deverão, agora, completar, corrigir ou, simplesmente, abandonar?
* Que oração nos inspira agora a leitura deste texto?

















(Obs: Esta é a décima postagem na sequência de A á M, em técnicas para ler a Bíblia, então não deixe de visitar. És muito importante para nós Cristãos).