quarta-feira, 31 de março de 2010

SEMANA SANTA 5ª FEIRA SANTA


Abaixando-se para encontrar a Deus (Lava-Pés)



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Pe. Jean Vanier
Fundador da Comunidade Católica A Arca (França)

     Ao colocar a toalha na cintura e se ajoelhar em frente de cada um dos discípulos, Jesus está vivenciando aquilo que havia anunciado alguns dias antes: "Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas. Sede semelhantes a homens que esperam seu senhor voltar das núpcias, a fim de lhe abrirem, logo que ele vier e bater. Bem-aventurados os servos a quem o senhor achar vigiando, quando vier! Em verdade vos digo: ele se cingirá e os colocará à mesa e os servirá." (Lc 12,35-37)

     Tudo está de cabeça para baixo! Em vez de ser servido, o chefe da casa é quem serve! Esta é a lógica do amor, a lógica de Deus que toma o caminho da pequenez e vai cada vez mais para baixo, um Deus que se esvazia e é humilhado (cf. Fil 2).
     Jesus, ao remover suas vestes, está revelando sua verdadeira glória, sua intimidade, o mais profundo desejo do seu coração. Ele se torna cada vez menor, mais vulnerável, para comunicar o amor. Geralmente admiramos as pessoas que são importantes, mas temos um pouco de medo delas. Tendemos a amar os que parecem pequenos e precisam de nós. É aí que está o mistério de Jesus: Ele se torna pequeno e humilde a fim de viver com os seus discípulos na mesma união e comunhão em que vive com o Pai. Jesus nos lembra que, de agora em diante, está escondido no pobre e, se quisermos encontrá-lo, devemos nos aproximar dos pobres.
     Depois deste gesto de amor e de compaixão para com seus discípulos, Jesus se torna ainda mais pobre. O homem que tem compaixão se torna necessitado de compaixão; aquele que havia chamado para si todos os que tivessem sede, agora, pregado numa cruz, grita: "Tenho sede". O todo-poderoso revela-se sem poder algum.
Fazendo-se servo ou escravo e lavando os pés dos discípulos, Jesus se identifica com os pobres, com aqueles que nada podem, como havia se identificado com os doentes, os famintos, os que têm sede, os imigrantes, os nus, os encarcerados (cf. Mt 25). É este mesmo mistério que Ele revela: Deus não está apenas próximo dos humildes, dos solitários, dos que sofrem, Ele está escondido neles.
     Na parábola do banquete (cf. Lc 14), Jesus afirma que muitas pessoas boas, saudáveis, com certeza virtuosas e que tinham um bom lugar na sociedade, foram convidadas, mas recusaram o convite. Então os convites foram enviados aos pobres, aos fracos, aos mancos, aos cegos, aos aleijados e estes aceitaram e encheram o salão. A vida e os ensinamentos de Jesus invertem todas as coisas. Os que estão mais perto de Deus são os humildes e os fracos, não mais os poderosos, os que estão sentados em tronos. Esta é a nova visão de Deus para a sociedade e para a humanidade. Se os líderes forem pobres o suficiente, certamente estarão próximos de Deus. Mas com Jesus, todos somos convidados a descobrir como os pobres e os excluídos são uma presença de Deus. 
"Quando fores convidado, procura sempre o último lugar e senta lá... pois todo aquele que se exalta será humilhado, e todo aquele que se humilha será exaltado" (Lc 14,10-11). 
Quando Jesus chama os seus discípulos para escolher o último lugar e sentar-se lá, Ele os está chamando a ser humildes e pequenos a fim de lutar contra o orgulho e a necessidade de ser importante.
     Jesus nos diz que, ao escolher o último lugar, encontraremos o pobre, o fraco, o excluído, o cego... os que são sinais da presença de Deus. Ao nos tornarmos seus amigos, nos tornamos amigos de Deus. Jesus não nos obriga a aceitar esta nova visão, não estabelece uma série de regras e regulamentos para seguirmos o que Ele diz. Ele simplesmente convida cada um, ricos e pobres, a tomar este caminho. É um caminho que leva a uma nova pobreza e, às vezes, à angústia, mas é o caminho da libertação profunda, da reconciliação, da paz e da alegria.

SEMANA SANTA


     Semana Santa. Semana na qual celebramos a centralidade da nossa fé, que teve início na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, ou seja, a Paixão – subida de Jesus Cristo ao Monte Calvário, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo para a nossa salvação; para nos resgatar das mãos do encardido e nos transferir para o mundo da luz, para a liberdade dos filhos de Deus. Jesus morre na cruz para reconciliar o homem com Deus. É a semana da nossa reconciliação com Deus. É a semana da vitória da vida sobre a morte. Do pecado sobre a graça. Quando os fiéis são batizados, aplica-se a cada um deles os efeitos redentores da Morte e Ressurreição de Cristo. Por isso, o cristão católico convicto celebra com alegria a cada função litúrgica da Semana Santa, que termina na celebração do Tríduo Pascal e da Páscoa.
     Assim recomenda a Santa Mãe Igreja que todos os seus filhos se confessem para que correndo com Cristo do pecado possam com Ele ressuscitar, na madrugada do Domingo da Páscoa, para a vida eterna.
     O tempo da Quaresma se prolonga até a Quinta-feira da Semana Santa. A Missa Vespertina da Ceia do Senhor é a grande introdução ao Santo Tríduo Pascoal. E este [Tríduo Pascoal] tem início na Sexta-feira da Paixão, prossegue com o Sábado de Aleluia e chega ao ponto mais alto na Vigília Pascoal terminando com as Vésperas do Domingo da Ressurreição.


domingo, 28 de março de 2010

Domingo de Ramos

                                      


     O Domingo de Ramos abre por excelência a Semana Santa. Relembramos e celebramos a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, Morte e Ressurreição. Este domingo é chamado assim porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão onde Jesus passava montado num jumento. Com folhas de palmeiras nas mãos, o povo o aclamava “Rei dos Judeus”, “Hosana ao Filho de Davi”, “Salve o Messias”... E assim, Jesus entra triunfante em Jerusalém despertando nos sacerdotes e mestres da lei muita inveja, desconfiança, medo de perder o poder. Começa então uma trama para condenar Jesus à morte e morte de cruz.
     O povo o aclama cheio de alegria e esperança, pois Jesus como o profeta de Nazaré da Galiléia, o Messias, o Libertador, certamente para eles, iria libertá-los da escravidão política e econômica  imposta cruelmente pelos romanos naquela época e, religiosa que massacrava a todos com rigores excessivos e absurdos.
     Mas, essa mesma multidão, poucos dias depois, manipulada pelas autoridades religiosas, o acusaria de impostor, de blasfemador, de falso messias. E incitada pelos sacerdotes e mestres da lei, exigiria de Pôncio Pilatos, governador romano da província, que o condenasse à morte.  
     Por isso, na celebração do Domingo de Ramos, proclamamos dois evangelhos: o primeiro, que narra a entrada festiva de Jesus em Jerusalém fortemente aclamado pelo povo; depois o Evangelho da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, onde são relatados os acontecimentos do julgamento de Cristo. Julgamento injusto com testemunhas compradas e com o firme propósito de condená-lo à morte. Antes porém, da sua condenação, Jesus passa por humilhações, cusparadas, bofetadas, é chicoteado impiedosamente por chicotes romanos que produziam no supliciado, profundos cortes com grande perda de sangue. Só depois de tudo isso que, com palavras é impossível descrever o que Jesus passou por amor a nós, é que Ele foi condenado à morte, pregado numa cruz.
     O Domingo de Ramos pode ser chamado também de “Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor”, nele, a liturgia nos relembra e nos convida a celebrar esses acontecimentos da vida de Jesus que se entregou ao Pai como Vítima Perfeita e sem mancha para nos salvar da escravidão do pecado e da morte. Crer nos acontecimentos da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, é crer no mistério central da nossa fé, é crer na vida que vence a morte, é vencer o mal, é também ressuscitar com Cristo e, com Ele Vivo e Vitorioso viver eternamente. É proclamar, como nos diz São Paulo: ‘“Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai’ (Fl 2, 11).  


Evangelho: (Lc 19, 28-40)
Jesus seguiu subindo para Jerusalém. Ao aproximar-se de Betfagé e de Betânia, perto do monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos e disse: "Ide ao povoado que está em frente. Entrando nele, achareis um jumentinho amarrado, que ainda não foi montado por ninguém. Desamarrai-o e trazei-o aqui. E, se alguém vos perguntar: ‘Por que o desamarrais?’ respondereis assim: ‘O Senhor precisa dele’". Os enviados partiram e encontraram tudo como Jesus lhes havia dito. Quando desamarravam o jumentinho, os donos perguntaram: "Por que desamarrais o jumentinho?" Eles responderam: "O Senhor precisa dele". Trouxeram o jumentinho para Jesus e, jogando suas vestes em cima do animal, fizeram Jesus montar. Enquanto ele passava, as pessoas estendiam suas vestes pelo caminho. Já perto de Jerusalém, na descida do monte das Oliveiras, a multidão dos discípulos começou a louvar alegremente a Deus num grande coro, por todos os milagres que tinham visto, dizendo: "Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu e glória nas alturas". Alguns fariseus disseram-lhe, do meio da multidão: "Mestre, repreende teus discípulos". Jesus respondeu: "Eu vos digo que, se eles se calarem, as pedras gritarão".

COMENTÁRIO

     O Domingo de Ramos é o dia que nos introduz na Semana da Paixão do Senhor. Nesta liturgia temos dois Evangelhos. Optamos por comentar o primeiro, o da bênção dos ramos, onde vemos que uma grande multidão se apresenta vibrante e empunhando ramos de oliveira. Gritam hosanas e aclamam Jesus: "Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!"
     Jesus é um Rei manso, humilde e pacífico, ao contrário dos outros reis que andavam em carros de guerra ou montados em cavalos. Mas ao mesmo tempo ele é forte e firme. Faz justiça devolvendo vida ao povo. E o povo o reconhece como seu Rei, seu Salvador. Por isso, estende seus mantos à sua passagem.: Enquanto o povo gritava "Hosana!" - "Viva! Salva-nos!" os poderosos ficaram preocupados e agitados. A presença de Jesus é sempre uma ameaça para aqueles que vivem às custas do suor do povo. A simples presença de Jesus traz liberdade. Onde Jesus está presente, a opressão está ausente.
     As atividades libertadoras realizadas por aquele chamado de: o Profeta Jesus de Nazaré da Galiléia, desafiam o poder opressor. A vinda do Rei-pobre exige opção, exige uma definição; ou o recusamos ou o aceitamos, não existe meio termo. Esse é o grande desafio. Ficar com o verdadeiro ou com o falso, ficar com o antigo ou aceitar a Nova Aliança.
     Jesus, ao mesmo tempo, é como um sapato confortável e também como aquela pedrinha incômoda que aparece não sabemos de onde. Para estar com ele é preciso abrir mão do poder e assumir o serviço. Não é fácil aceitar e cumprir a proposta do Salvador.
     É dificílima essa decisão, por isso até hoje essa dúvida nos incomoda. Todos aguardavam um rei vingador, e com um enorme número de soldados para exterminar os inimigos do povo. Mas, a decepção é geral, esse Rei se apresenta exigente, sem armas e com propostas de mudanças.
     Mudanças radicais que se trouxermos para os dias de hoje significam abrir mão dos grandes lucros e pensar com mais seriedade nos desempregados, nos aposentados, nos idosos e menores abandonados. O Rei exige preocupação com os enfermos e com os preços abusivos dos remédios.
     Todas essas mudanças exigem muito de cada um de nós. Exigem desprendimento e renúncia; exigem humildade, solidariedade e amor ao próximo. Aderir ao Cristo significa mudar.
     Quem não muda e não assume o compromisso batismal, é como aquele que estende o seu manto e grita "Hosana! Hosana!" e que, em menos de uma semana depois, lá está, no meio da multidão e gritando: "Crucifica-o! Crucifica-o!"
     Os fariseus queriam que os discípulos de Jesus se calassem, pois aquela manifestação atrapalhava seus projetos. Jesus pregava justiça e fraternidade, pregava amor e partilha e isso fazia dele um inimigo mortal. Jesus era uma ameaça para os que viviam às custas dos pobres e oprimidos.
Quase nada mudou de lá para cá, a opressão, a injustiça e a exclusão continuam presentes, e querem tapar nossas bocas. Por isso, não se cale! O mundo precisa conhecer a liberdade que só o Verdadeiro Rei pode trazer. Coragem, grite forte! Não permita que o nome de Jesus seja abafado! Essa verdade precisa ser divulgada. Lembre-se de que se nos calarmos, as pedras gritarão!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Campanha Da fraternidade 2010 "Vocês Não Podem Servir a Deus e Ao Dinheiro"




Neste tempo especial, que é a Quaresma, devemos aproveitar ao máximo para fazer uma renovação espiritual em nossa vida. E neste ano, a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil [CNBB], por intermédio da Campanha da Fraternidade [CF], nos convida, de modo especial, para fazermos essa nossa renovação espiritual e, sobretudo, nos convertermos em relação ao nosso dinheiro.
E o que significa conversão? Quem dirige automóveis entende bem esse termo: quando se está no carro e vemos uma placa indicando que só podemos seguir à direita, precisamos fazer uma conversão à direita, ou seja, precisamos mudar de direção, tomar um outro caminho. E essa é a proposta desse tempo quaresmal. Isso é conversão. Mudarmos o caminho. Tomarmos a direção proposta pelo próprio Cristo. Pois Ele mesmo é o caminho, a verdade e a vida.
E especificamente, nesta Campanha da Fraternidade, que nos convertamos, que mudemos de direção em relação ao uso do nosso dinheiro. Que sigamos as propostas de Jesus em relação à nossa vida econômica. E se dermos uma olhada mais cuidadosa nos Evangelhos, perceberemos que Cristo muito nos ensinou sobre dinheiro, sobre economia e sempre, como nos convida o tema da CF: uma economia para favorecer a vida! Exemplo disso é o próprio lema da CF: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Versículo 24, retirado do capítulo 6 do Evangelho de São Mateus. Esse trecho é entendido como um alerta sobre os bens materiais nos tornarem escravos da riqueza e, assim, retirarem a nossa comunhão com Deus. Por isso, existe aí uma proibição em tentar conciliar o serviço a Deus e o serviço à riqueza, pois não é possível viver dividido.
Ao personificar as riquezas, o texto mostra que o gosto pelos bens materiais pode nos dominar. E que isso não pode acontecer, pois maior deve ser o compromisso com Deus, que direciona as ações da vida diária. E, assim, se aprende a não desejar o acúmulo, mas a utilizar de modo justo o dinheiro que se tem.
Conciliar o acúmulo e a fidelidade a Deus é impossível. São projetos distintos. E projeto aqui é entendido como aquilo que temos como direção e prioridade na vida. Ambos os projetos – de acúmulo de riqueza e de Reino dos Céus – são opostos, pois tanto um quanto o outro ocupam todas as dimensões da existência. E não se pode investir a vida em duas propostas distintas.
O Evangelho é taxativo: Não podeis servir a Deus e às riquezas (Mt 6,24). A vida centrada em Deus e a vida centrada no dinheiro têm dinâmicas muito distintas. Enquanto uma se preocupa com a solidariedade e a partilha, a outra se consome na ambição desenfreada e insaciável de acumular. O Evangelho alerta sobre esta tentação.
Escolhamos o caminho, que é Jesus. Ele nos garante que, se colocarmos o Seu Reino em primeiro lugar, a Providência Divina cuidará em tudo! Pois nos diz: “Buscai primeiro o Reino dos Céus e sua justiça que tudo o mais vos será dado em acréscimo” (Mt 6,33).


sábado, 13 de março de 2010

Convertei-vos! Crede no Evangelho


CONTINUAÇÃO
     Cito a conversão da mártir Edith Stein. Depois de peregrinar pela tradição judaica até à sua juventude, cai numa espécie de letargia ou descrença generalizada. Pratica a caridade como profissional de enfermagem, durante a guerra mundial de 1914-1918. Mergulha nos sistemas filosóficos mais complicados à procura de uma luz, por pequena que fosse. Nada a satisfaz, apesar da sua retidão moral e da sinceridade de sentimentos. Em noites de insônia, encontra a resposta a todos os seus questionamentos em uma simples biografia de Santa: a de Teresa D’Ávila. Não teme encetar a caminhada nova das oposições, dos sofrimentos familiares, dos aparentes escândalos. É iluminada pela luz que jorra do Calvário como esperança da novidade única e total. Encontra a luz plena e definitiva em um campo de extermínio, na frieza de uma câmara de gás. Morre mártir em defesa da verdade, tal como São Paulo, São Policarpo e Santa Inês.
     Conversão é o ‘avançar para águas mais profundas’ (Lc 5,4); é buscar a santidade no pensar e agir; ansiar pela amizade com Deus, ‘único necessário’ (Lc 10,42); é confiar na onipotência de quem amamos com novo amor e que pode ‘transformar pedras em filhos de Abraão’ e apoiar-se na força transformadora da Palavra de Deus e dos Sacramentos; é o alentar-se pela esperança que me garante o resultado certo pelo auxílio do ardor do Espírito.
     A conversão desponta na vida dos santos e santas com o especial momento de graça: São Paulo tomba por terra e fica, transitoriamente, cego; Santo Agostinho deixa para trás um passado de glória mundana e de prazeres carnais. Edith Stein renuncia a uma pretensa auto-suficiência racional, para abraçar o ‘enigma da fé’ (1Cor 13,12); São Francisco de Assis se despoja de tudo e renuncia a todos os pseudo-valores que não se coadunassem com a nobre dama da Pobreza absoluta; Santa Teresinha abraça o martírio por amor: na escuridão aparente da fé, na crueza do sofrimento físico, no abandono total à bondade e misericórdia do Altíssimo…
'Voltai para mim de todo o coração, chorando e batendo no peito. Rasgai vossos corações… Voltai para o Senhor, vosso Deus, pois Ele é bom e cheio de misericórdia’ (cf. Joel 2,12-13)"
(fonte: www.comshalom.org/formacao/liturgia/entrevista_arcecbispo_rio.html  -  autor: Dom Eusébio Scheid, Cardeal emérito do Rio do Janeiro


sexta-feira, 12 de março de 2010

Convertei-vos! Crede no Evangelho!


CONTINUAÇÃO
Parece simples e, contudo, é o caminho de conversão mais difícil. Ser filho e filha de Deus importa em ‘estar nas coisas do Pai’ (Lc 2,49), sem esquecer as da terra. Cuidar e amar o que é terreno em vista do que é eterno. São normas fundamentais e irrenunciáveis. É o equilíbrio entre materialismo e alienações. Quando, em dias de estudo, de retiro ou de aprofundamento da fé, se fala de conversão, assalta-nos uma certa tristeza, medo e insegurança. Trata-se de algo novo, omitido ou nunca antes pensado como urgente. 
Ao falar de conversão para Deus e para os irmãos, entramos no âmbito da familiaridade com as coisas do Alto e da fraternidade, apoiada em verdades reveladas: ‘Vós todos sois irmãos’ (Mt 23,8); trazemos em nós a estampa do Criador (Gn1,26), que vai respeitada por ser a identidade de nossa própria origem; somos conduzidos pelo Espírito, destinatários do mesmo fim: ‘Nosso coração está irrequieto até que descanse em vós’ (Confissões de Santo Agostinho, 1,1). Os irmãos e irmãs estão em nível de ‘parentesco’ em Deus.
Quando repensamos certas conversões, tais como: a de São Pedro, de São Paulo, de Santo Agostinho, de Edith Stein, de John Wu, de São Francisco de Assis e tantas outras, não podemos deixar de admirar a magnanimidade de Deus e a firmeza de vontade dos convertidos. Não voltam atrás no passo dado, ainda, que lhes custasse o sacrifício da vida.
A conversão que Cristo prega não é a volta ao passado e, nem mesmo, o ferrenho apego a tradições vazias e sem sentido, como comenta o próprio Jesus de Nazaré. É preciso caminhar por estradas novas, caminhos estreitos… Sem apego às paisagens à beira do caminho, sem saudades do que ficou para trás, rasgando os horizontes do desconhecido, mas, com a certeza de um destino certo, porque Jesus, ‘caminho, verdade e vida’ (Jo 14,6) vai conosco, vai à frente.